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Sofrer ou não sofrer, eis a questão ...



Parodiando ao grande autor Shakespeare em sua obra Hamlet podemos sim questionar o sofrimento como uma parábola do ser ou não ser.


O personagem do drama de Shakespeare continua: "Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir".


Assim, estar vivo ou morrer parte do pressuposto da dicotomia que vivemos, um em contraste e contraposição ao outro, uma dualidade cartesiana que emite um conceito de que não sofremos ou sofremos em nosso pensamento inicial. Em verdade, podemos pensar no sofrimento como algo bem mais complexo e bem mais relativo, não em algo dual e simples.

O sofrimento na espécie humana passa em especial pelo pensamento de não conseguir realizar o que deseja, de por limitações físicas, corpóreas e intelectuais. O ser humano não consegue aquilo que almeja e assim sofre. Se esta pessoa a nada almejasse e se contentasse com o que tem, este sentimento não apareceria e a vida se ajustaria integralmente. Mas junto ao ser temos o ter, ou seja, temos que ter um namorado, uma casa, um carro, um emprego, uma vida de viagens e aventuras, temos que ter prazer, dinheiro e tudo mais. Desta forma, quando não temos sofremos, porém se aceitamos não sofremos.


Ah...mas eu não queria ficar doente e não queria sofrer...

Mesmo o sofrimento da doença é devido ao que queremos e pensamos. A doença nada mais é que a influência da consciência sobre o corpo físico e sua manifestação quando em desequilíbrio. Vemos isso em casos graves de pessoas doentes que melhoram, mesmo sem remédios ou terapias médicas convencionais, mas que mudam sua forma de vida, seus pensamentos e assim se curam “milagrosamente”.


Se temos uma doença é porque nossa consciência está desequilibrada e tem alterações, que em muitos dos casos querem mostrar um sofrimento por não ter ou não ser algo, pensamos, solidificamos energeticamente estes pensamentos e criamos uma doença física.

E os animais? Eles têm a possibilidade de querer coisas, de pensar no que possuem almejar isto, se frustrando e gerando doenças pelo não ter? A resposta é NÃO.


O animal não tem doenças porque quer, para chamar atenção ou para conseguir algo que sua mente planeja e precisa. Ele apenas vive para conseguir que sua espécie e sua matilha estejam bem e saudáveis, como comida, água e protegidos das intempéries climáticas. Ele vive o momento, não o futuro ou o passado (o ser humano podia imitar isso e viver melhor...). Suas doenças simplesmente vêm do ambiente e o sofrimento não existe para eles, apenas dificuldades.


Vemos isso em cães de cadeiras de roda, que com a possibilidade de andar voltam a uma vida normal, ou de animais que ficam sem conseguir se locomover e vivem, comem e interagem com as pessoas a sua volta da mesma forma – tenho um cão que a dois anos esta sem andar e que ainda assim, sem se mexer, quando chega alguém late e mostra os dentes, inclusive assustando as pessoas e servindo de guarda mesmo estando há 2 anos sem se levantar.


O sofrimento do animal é um ... sentir dor. Para isso temos técnicas anestésicas apuradas e eficientes, que a cada ano são melhoradas, mais precisas e mais eficientes, basta o veterinário estudar e se aprimorar.


Tinha esquecido outro sofrimento muito importante, o de ser abandonado e de não ter atenção de sua matilha, isto é, da sua família, a qual ele vive para cuidar e proteger. Não o levar com cuidados paliativos, não dar carinho, não cuidar de suas necessidades de comida e de limpeza, isso sim leva ao sofrimento.


Podemos dizer isso também leva ao sofrimento da família, que agora tem que perder tempo limpando, arrumando e dando remédios, sem contar no sofrimento de gastar dinheiro com veterinários e médicos. Veja bem o egoísmo destas palavras...


Quando temos uma responsabilidade temos que levá-la até o final. Quando tomamos a responsabilidade de termos sobre nossa tutela um animal, aquele filhotinho lindo que late e brinca e alegra a toda a família, temos também a responsabilidade e o pensamento voltado para a realidade de que:

ele vai envelhecer, ter limitações e teremos que mantê-lo bem cuidado e amparado.

Veja bem... o sofrimento não é do animal e sim do tutor e sua família. Esta família, a qual não quer ter trabalho e reclama que o animal está sofrendo, adota por colocar a sujeira embaixo do tapete, ou seja opta pela eutanásia.


A eutanásia só alivia o sentimento de responsabilidade da família, pois alivia a ela o peso de ter que tratar de algo que ela não gosta, de enfrentar uma situação que ninguém quer enfrentar e que em verdade todos vamos enfrentar: o envelhecimento e a doença.


Desta forma, quando falamos no início, “sofrer ou não sofrer, eis a questão”, na verdade não falamos no sofrimento do animal, que se bem cuidado não sofre, mas sim no sofrimento da família. A questão é esta, o sofrimento da família ou o não sofrer é a opção da família, nunca do animal.


O que é mais nobre então? Será sempre nos prepararmos para as condições, aprendermos com as situações e evoluirmos, pois a doença é nossa e o sofrimento é nosso. É importante lembrar que os animais estão ao nosso lado para evoluir e aprender conosco, mas evolutivamente ainda não tem desenvolvida a capacidade de decidir como e se podem viver. Fato este que muitos seres humanos ainda não sabem ou acham que são poderosos, tendo a permissão de escolher sobre a vida ou a morte de outros seres que simplesmente trabalham em prol destes humanos, mantendo as energias equilibradas e o ambiente limpo, físico e energeticamente.


Eduardo Lobo – veterinário com especialização em acupuntura e oncologia, professor e escritor


Renata Dalla Valle – veterinária com especialização em acupuntura e outras terapias integrativas, pedagoga e psicopedagoga

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